segunda-feira, 28 de março de 2022

Quem foi o Espírito André Luiz - Hércio M. C. Arantes

 Quem foi o Espírito André Luiz - Hércio M. C. Arantes


Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e texto que diz "ANUÁRIO ESPÍRITA 2004 André Luiz... quem foi? 4nos 40 anos ide ide 1"Quem foi o Espírito André Luiz

Hércio M. C. Arantes

Na década de 60, quando estudava a série das obras de André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, naturalmente entusiasmado com a riqueza de suas informações, colhidas em estágios realizados em vários setores de aprendizagem de Mais Além, e transmitidas com atraente descrição romanceada, também tive, como muitos confrades, a curiosidade de saber quem era o autor, desencarnado há poucas décadas, que se ocultava com aquele pseudônimo.

Essa curiosidade foi aguçada por uma observação da revista Reformador, que, ao divulgar o lançamento de mais uma obra de André Luiz, pela Federação Espírita Brasileira (FEB), identificou-o como um ilustre médico do Rio de Janeiro.

Passei, então, a pesquisar sua identidade, consultando biografias de vultos da Medicina brasileira, embora lembrando sempre a advertência de Emmanuel, conforme se lê em seu prefácio para o livro Nosso Lar, o primeiro da série: “Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes, o anonimato é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor.”

Confirmando a advertência do sábio guia espiritual do médium, minhas pesquisas foram infrutíferas. Elas indicavam, como o autor mais provável, o Dr. Álvaro Alvim (1863-1928), que escreveu vários livros médicos e foi mártir da Medicina brasileira. Alguns dados biográficos e a sua fisionomia, estampada na Enciclopédia Lello Universal, levavam a essa hipótese, que não satisfazia o nosso objetivo.

Citei a fisionomia porque a imagem de André Luiz já havia sido divulgada pelo Anuário Espírita 1964, que a apresentou juntamente com a entrevista desse espírito através dos médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.

Após essa entrevista, realizada em Uberaba (MG), em 1963, com a presença do devotado confrade Jô (Joaquim Alves, S. Paulo, SP, 1911-1985), autor de numerosas capas de livros espíritas, esse conhecido artista solicitou ao Dr. Waldo um esboço da imagem de André Luiz, fundamentado em sua clarividência. Atendido em seu pedido, em face de sua facilidade para desenhar, Jô efetuou a artefinal daquele retrato.

Portanto, não encontrando uma solução clara para a questão, na primeira oportunidade recorri ao médium amigo Chico Xavier, participando-lhe minha pesquisa.

Ele, como sempre, ouviu-me pacientemente, e, a seguir, esclareceu-me de forma incisiva: “Não perca tempo, pois a biografia de André Luiz, em Nosso Lar, está toda truncada.”

Com essa oportuna advertência, encerrei definitivamente minhas pesquisas, entendendo que havia, de fato, razões seriíssimas para o autor se ocultar, não só com o seu pseudônimo, mas também alterando sua própria biografia, sem nenhum prejuízo na transmissão dos ensinamentos superiores dos quais era portador.




Finalmente, o médium elucida-nos completamente

Em 20 de fevereiro de 1993, num fim de semana, ao visitar o estimado médium Chico Xavier, em sua residência, tivemos uma surpresa feliz.

Juntamente com três familiares – esposa Maria de Nazareth, nosso filho Hélio Ricardo e tio Hélio – entramos na copa de sua casa, local habitual em que ele recebia os visitantes, encontrando-o assentado, em palestra com alguns confrades, dentre eles, Dorival Sortino, presidente das Casas Fraternais O Nazareno, de Santo André (SP), e um médico, já idoso, do Rio Grande do Sul, que integrou a última turma de alunos do Dr. Carlos Chagas, no Rio de Janeiro.

Este, quando residia nos Estados Unidos, teria auxiliado o médium quando em uma de suas viagens àquele país.

Logo depois que chegamos, Chico e o médico passaram a dialogar sobre a figura do prof. Dr. Carlos Chagas (1879-1934), médico e cientista brasileiro que se tornou célebre por estabelecer, sozinho e simultaneamente, a etiologia, características patológicas e prevenção de uma nova e grave enfermidade, que em sua homenagem foi denominada doença de Chagas.

A certa altura da conversa, Chico abordou uma questão, que muito me surpreendeu, pois o seu esclarecimento nunca havia sido divulgado.

Nesse momento, passamos a anotar a sua fala, como sempre fazíamos, eu e minha esposa, quando ouvíamos algo mais interessante do querido médium.

Contou-nos, então, com naturalidade, que, ao terminar a psicografia do livro Nosso Lar, esperava que o seu autor usasse o seu próprio nome da última encarnação.

Mas, para sua surpresa, certa noite, estando em desdobramento espiritual, mantendo um diálogo com Dr. Chagas, foi informado de que, para não criar problemas ao médium, ele usaria um pseudônimo.

E, dentro de um ano, Chico entenderia melhor essa decisão.

A seguir, Chico perguntou-lhe qual pseudônimo ele usaria.

Então o autor olhou para o irmão do médium, chamado André Luiz, que dormia na cama ao lado, e disse-lhe que usaria o nome dele. E assim foi feito.

A primeira edição do Nosso Lar foi lançada, pela FEB, em 1944, com prefácio de Emmanuel, datado de 3 de outubro de 1943.

E o que aconteceria no próximo ano?

Em 1944, a Sra. viúva do renomado escritor Humberto de Campos (1886-1935) pleiteou na Justiça os direitos autorais das obras mediúnicas de Humberto de Campos (espírito) recebidas por Francisco C. Xavier e editadas pela FEB.

Surgiu, então, “o caso Humberto de Campos”, caracterizado como escândalo pela grande imprensa.

A propósito, disse-nos o Chico: “Foi horrível por causa do alarme da imprensa.” (Ver depoimento do médium em Chico Xavier – o Apóstolo da Fé, Carlos A. Baccelli, LEEPP, 2002, cap. Chico, 89 primaveras!)

Após longa trajetória, o processo chegou ao fim com a absolvição dos réus: o médium e a editora.

A partir dessa época, Humberto de Campos, Espírito, passou a usar o pseudônimo de Irmão X em seus livros psicografados.

Portanto, é fácil entender a preocupação do Dr. Carlos Chagas (André Luiz) em não se identificar como autor de Nosso Lar, que, segundo a programação superior, representava o marco inicial de uma longa série de livros.

Era necessário que, além do pseudônimo, o autor espiritual não fosse, de forma alguma, identificado, graças à providê ncia de truncar dados de sua vida, sem afetar o elevado conteúdo da obra.

Reprodução do Anuário Espírita de 2004 – IDE – Araras, pelo mesmo autor
Novembro de 2009 - Edição número 423