MENSAGEM DO PRETO VELHO PAI AMBRÓSIO.
(Extraído do livro Aos Pés do Preto Velho, pelos Espíritos Ramatís e Pai Tomé, psicografia do médium Noberto Peixoto)
MENSAGEM DO PRETO VELHO PAI AMBRÓSIO.
(Extraído do livro Aos Pés do Preto Velho, pelos Espíritos Ramatís e Pai Tomé, psicografia do médium Noberto Peixoto)
Eu meu chamo Pai Ambrósio. No Astral, sou um Preto Velho, por simpatia a essa forma perispiritual, obreiro socorrista desencarnado da Igreja A... Também faço parte do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade, no qual meu amigo Ramatís nos autoriza trabalhar. O médium que escreve meus pensamentos é um dos componentes da corrente. Hoje estou acompanhando um grupo de outros obreiros evangélicos que estarão visitando esse centro de Umbanda pela primeira vez. Esse intercâmbio ecumênico é comum do lado de cá; ao contrário do que ocorre por aí, infelizmente. Vou contar um pouco da minha última vida na carne,para que os leitores possam compreender como cheguei aqui e como Deus é bom.
Durante década frequentei um mesmo centro espírita na crosta, localizado na região central de uma grande capital brasileira. Todos os dias que ia para o labor espiritista, deixava meu carro numa garagem próxima e andava alguns quadras até a sede do centro, passando por uma vistosa praça. Sempre que atravessava por entre os bancos da praça, com seu lindo chafariz central, lá estava um pastor evangélico aos berros citando o Velho Testamento, doutrinando os "ventos", pois geralmente estava sozinho. Vez ou outra, um ou outro mendigo o escutava. Toda semana, fizesse chuva ou sol, lá estava ele lendo a Bíblia e fazendo sua preleção. O que para a minha racionalidade espírita era pura fascinação.
Passam-se os anos, eu me tornei um dirigente de grupo, palestrante, eminente orador, coordenador de escola de médiuns, diretor espiritual, e finalmente presidente e membro da Federação. Assim como galguei degraus na hierarquia do centro, minha atividade profissional como juiz federal também deslanchou e cheguei ao máximo na carreira.
É lá estava firme como uma rocha intocável, o velho conhecido pastor evangélico, raramente com um terno diferente: sua Bíblia já gasta e amarelada, ele estático naquela atividade e eu nem sucedido profissionalmente e no topo de uma tarefa espiritual. Olhava-o e tinha pena da criatura ensismesmada nas leis mosaicas e impenetrável às luzes libertadora de Jesus reforçadas com a Boa Nova do Espiritismo. Por vezes, cheguei a abordá-lo, enfatizando sua perda de tempo, recomendando que comparecesse ao centro que eu dirigia. Mas sempre ele me olhava nos olhos de quem via algo que eu não via; dizia que me perdoava pelo erro do julgamento e continuava sua preleções para os poucos transeuntes que paravam para escutá-lo. Envelhecemos juntos, literalmente lado a lado nos encontrando toda a semana.
Chamava-me atenção pela pontualidade e férrea regularidade no comparecimento à praça. Muitas vezes citei-o como exemplo de persistência em nossa reunião de Concelho na Federação, brincando com os outros dirigentes, pois se até um pastor evangélico conseguia ser assíduo no seu templo-praça, sofrendo as intempéries climáticas forçosamente na cabeça, com certeza eles conseguiriam regularidade nos centros que dirigiam, ou não éramos espíritas de verdade.
Enfim, minha derradeira hora chegou e desencarnei como presidente de um renomado centro, eminente espírita e desembargador aposentado. Qual não foi minha surpresa ao constatar que não fui para nenhuma colônia, muito menos visualizei qualquer mentor espiritual! Não tendo ocupação no Além-túmulo, fiquei perambulando no centro espírita, continuando a mandar nos médiuns que, pasmem, obedeciam às minhas ordens mentais. Não sei quanto tempo se passou, mas era como se eu estivesse vivo, trabalhando no centro a qual eu tinha me dedicado por atentos anos.
Certa noite, quanto menos esperava, fui atraído por uma força centrípeta incontrolável e me vi fixado no corpo de um médium, como se estivesse dentro dele, e pude falar normalmente com os vivos da mesa como se fosse dono da cognição e psicomotricidade daquele amontoado de carne quente que me acolhia. Senti um bem-estar que há muito já tinha esquecido. Disse-lhes que eu continuava o presidente, que não os abandonaria e tinha algumas orientações a dar, pois estava contrariado com as recentes mudanças, e que as coisas tinham de voltar a ser como antes. Pasmado, escutei o doutrinador esclarecer-me de que já tinham se passado dez anos do meu desencarne, que estava na hora da minha libertação da Terra, que eu não poderia ficar mais ali junto com os médiuns. Agradeci e disse que estava à disposição para ir para uma colônia espiritual no Astral superior, onde deveria ser meu lugar, por inquestionável direito conquistado e reconhecida obra realizada. Ao terminar de falar, senti uma sonolência gostosa, um leve torpor acompanhado de uma força de sucção centrífuga, puxando-me para trás pela nuca e senti um calafrio ao desacoplar-me do médium.
Suave e repentinamente desvaneceram-se todas as formas de construção em que eu estava e vi-me numa estrada escura completamente solitário. Andei andei e andei e nunca encontrava ninguém. Tanto caminhei que as solas do meu sapato ficaram gastas e comecei a andar descalço, sentindo muita fome, sede e cansaço. Um dia, com feridas sob as solas dos pés e pústulas fétidas nas canelas, que tinham se formado pelos constantes arranhões de galhos secos que encontrava em meu caminho, sentei no chão e comecei a orar ao Alto.
- Pai Santíssimo por que me abandonaste? Eu que sempre me dediquei ao centro, ampliei-o, expandi os trabalhos, aumentei o número de frequentadores, sistematizei a escola de médiuns, estruturei o departamento social, aumentei o quadro de associados, ampliei a livraria e a arrecadação... por que, meu Pai, por que??? Sentado, batia com as mãos no chão num choro de raiva e autocomiseração, sentido pena de mim mesmo. Aos poucos, foi surgindo uma luzinha ao longe: parecia um vaga-lume se aproximando. A luz paulatinamente foi crescendo e pude ver um homem com uma vela num castiçal e uma Bíblia embaixo do braço aproximando-se cada vez mais perto.
- O quê? Não acredito! Você, o pastor evangélico! O que faz aqui? Cadê os socorristas do centro? Os caravaneiros de Maria de Nazaré. Os confrades amigos?
- Meu querido irmão, Jesus a todos conforta e de ninguém se faz ausente. Posso ajudá-lo? Venha comigo!
- Nunca! Você é um inepto sem estudo e formação teológica que nada realizou em toda a sua reencarnação. Como pode agora querer me socorrer; eu, um jurista irrefutável, elevado tribuno e renomado presidente de centro espírita?
- Meu caro olhe a sua situação: você nem consegue ficar em pé, seus cabelos estão longos e desgrenhados, suas unhas enormes, suas roupas em farrapos, suas pernas purulentas e seu semblante chupado qual cadáver andando na noite. Está fraco com fome e sede mas não verga orgulho insano. Precisa de ajuda e cá estou ao seu lado, o primeiro desencarnado que comparece em seu auxílio. Ou já viu algum outro?
- É verdade, tenho de admitir que nunca enxerguei nenhum. Você é o primeiro, para a minha decepção. O que houve? Por que o meu abandono? O que eu fiz de errado? Onde está o amor fraternal e consolador tão apregoado nas hostes espiritista?
- Querido irmão, o amor de Jesus está aqui e igualmente em todos os lugares para onde vamos, sempre ficando com cada um de nós. Você não o sente porque desgarrou-se do Seu rebanho. Mas tranquilize-se, pois nunca esteve perdido.
- Mas o que houve? Ao menos você, mesmo nada tendo realizado me diga?
- Amado irmão, temos que reconhecer que fez consideravelmente em favor da doutrina e da causa que abraçou. Todavia, se muito fez, muito mais recebeu em vida. Deixou-se contaminar pelo vício do reconhecimento e pelo "sucesso" e brilho intelectual de renomado dirigente espírita.
- Mas tudo que fiz de nada valeu?
- Claro que foi de grande valia para a coletividade, mas de muito maior valia foi para o gozo do seu ego. Recebeu na carne todos os bônus pelo seu trabalho e voltou para cá devedor, pois, por muitas vezes, não fez por altruísmo ou caridade, mas unicamente pelo anseio dos elogios e consagração do seu sacerdócio frente aos seus pares.
- Quem é você para me julgar, um inepto que nada fez?
- Meu caro, se o julgo, é para qie desperte da chama da vaidade. Com a mesma medida com que medimos, somos medidos. Meço-o para socorrê-lo. E você, por anos a fio me julgou, por simples escárnio e senso de superioridade? Quantas vezes fui motivo de piada sua entre seus pares, nos corredores do centro? Na verdade, está em débito com a Lei Divina. Seja humilde e deixe-me interceder em seu favor, levando-o daqui para um lugar melhor.
Nesse momento, a Bíblia do pastor ficou luminosa como se fosse outro fosforescente, então passei a vê-lo pregando em praça pública com centenas de espíritos desencarnados envolta, escutando-o. Ao mesmo tempo, falanges de socorristas de centro espíritas e de Umbanda próximos, os atendiam: padres, enfermeiros, Caboclos e Pretos Velhos unidos, auxiliando os sofredores perdidos, colocavam-nos em macas e os levavam para os diversos hospitais do Astral. Enfim compreendi tudo. Ó Deus, como estive errado em toda uma existência!!!
- Sim, é verdade. Diante do que você fez, no silêncio de uma vida, eu nada realizei, quando me comparo. Você que foi alvo do meu barulhamento escárnio, trabalhou em silêncio com afinco e humildade. Eu sempre usei minha intelecção para as glórias efêmeras do reconhecimento de meus confrades. Recebi em vida, mas ainda devo muito. Você nada recebeu na Terra, acomulando para quando voltasse para a vida real do espírito. Pode me emprestar alguns vitens no livro da Contabilidade Sideral? Aceito a sua ajuda e peço perdão.
- Nada tenho a perdoar, querido irmão, pois em nada me ofendeu. Aquele qie não se ofende não tem o que perdoar. Vamos, dê-me as mãos e partamos logo daqui.
Com choro sincero, não só estendi a mão, como abracei ardentemente aquele pastor evangélico, como nunca me lembro de ter abraçado alguém. Adormeci como uma criança que é levada para a cama por um avô protetor e bondoso.
Acordei numa espécie de internato evangelista no Astral, alimentado, vestido limpo num quarto com linda vista para um jardim florido. Era um dia ensolarado; suave cheiro de jasmim impregnava o ambiente e um lindo canário amarelo chilreava na janela. Um educado monsenhor entrou e disse que eu tinha desencarnado fazia 20 anos. Passara dez anos no centro espírita, no meio dos encarnados, até que fui "removido" numa sessão de desobsessão. Ocorre que eu, não tendo merecimento sozinho por uma estrada escura, que na verdade era uma concha astral refletindo meu estado egoísta e solitário de consciência. Acostumado a mandar nos outros, precisava vencer meu orgulho e permitir-me ser ajudado.
Enfim para a minha história não alongar-se demais, hoje sou um hobreiro socorrista numa igreja evangélica. Conduzo para a Umbanda os espíritos afins à egrégora dos Orixás, Caboclos, Pretos Velhos e Exus. Ainda tenho muito a aprender, a obedecer, enfim colocar a "mão na massa". (...). Vou seguidamente, juntamente com os pastores que que fazem pregações nas praças, e ajudo no socorro dos sofredores desencarnados que se amontoam ao redor. Hoje, compareci para contar um pouco de minha história, participar de mais uma gira de Umbanda que vai ocorrer daqui a pouco, e contribuir com Pai Tomé e Ramatís, testemunhando a verdade do lado de cá. Estamos todos unidos em nome de Jesus num congraçamento espiritualista ecumênico, amoroso, eclético e Universalista, que se une essência do amor e se desvincula das formas transitórias terrenas, sectarias, que tanto separam os homens do Cristo interno.
Sou Pai Ambrósio; me apresento com a configuração de um negro velho simples obreiro socorrista em nome de Nosso Senhor Jesus, na importa onde nem com quem.
Muito obrigado a muita paz para todos espiritualistas da Terra.