A ENTIDADE
Aquele ser enigmático se disfarçava numa aparência tal que se apresentava aos espíritos daquela região de penumbras com unia personalidade fortemente magnética, irradiando uma aura que inspirava temor.
A ENTIDADE
Aquele ser enigmático se disfarçava numa aparência tal que se apresentava aos espíritos daquela região de penumbras com unia personalidade fortemente magnética, irradiando uma aura que inspirava temor. Talvez, aquele aspecto com o qual era visto exteriormente fosse apenas projeção de sua mente poderosa e disciplinada, fonte de maquinações e planos que, para os homens comuns, afiguravam-se infernais. Quem sabe seus pensamentos transcorressem numa dimensão que usualmente os outros seres não poderiam compreender, e que os mais hábeis psicólogos e cientistas apenas suspeitassem? Como numa interpretação teatral, ele se expôs à percepção da população das esferas subcrostais envolto em tamanha nuvem de mistério que sua simples imagem causava tremendo impacto.Aquela era uma área singularmente negra, pois a escuridão do ambiente astral inferior, denominado trevas, era acompanhada de um frio intenso, ríspido e intolerável, suscetível de dardejar os corpos espirituais daquele enxame de seres infelizes que perambulavam pelo vale das sombras, obscurecendo ainda mais sua visão, já apoucada pelo espaço lúgubre onde viviam. E de quase tocar o âmago do espírito, o frio ou a frieza parecia ser a extensão das auras daquelas almas desterradas, que ali coexistiam.
O ser, representante de uma constelação de poder que não poderia ser ignorada, trajava beca escura, facilmente confundida com um hábito sacerdotal, cujas cores se mesclavam entre o preto e o prata, porque reluzia desmesuradamente em meio ao negrume daquela paisagem aterradora. Acima dessa veste, com extrema elegância, um manto púrpura caía-lhe sobre os ombros, a denotar um cuidado extravagante, descendo em ondulações que lhe cobriam os pés e arrastavam-se além. Era como se o tecido vinho se derramasse ao longo de suas costas e fosse tragado pelo solo sedento, ressequido após as pisadas duras de seu senhor. Ao mesmo tempo, algo indefinido parecia animar essa cauda arroxeada, como se uma brisa a acariciasse, encaracolando de forma majestosa suas dobras, na presença de um
sopro sussurrante.
E, ornando a opulenta indumentária de alguém experiente na arte do disfarce, esvoaçava ao vento, um vento infecto, gélido e contagioso, uma espécie de capa, com certeza tecida em filigranas de luz astral, coagulada por sua força mental exuberante. Especialmente leve, soberba, embora sóbria, e partida na frente, a aparência da capa era bem distinta daquela que possuíam as demais vestimentas exibidas pelo espírito. A tal peça era de um ocre escuro, quase dourado, que compunha elegantemente a figura daquele espírito, emprestando-lhe um ar de nobreza. Sob os trajes, ocultava-se seu verdadeiro feitio, sem artifícios, sem engodo, porém não percebido nem pressentido pelos seres que ali habitavam.
Por onde passava o espírito, semelhante a um fantasma advindo de regiões inferas se é que
pudesse haver um lugar mais inferior do que aquele, parecia que a escuridão rondava seus passos e se tornava ainda mais profunda, quase medonha. Gravitando em torno dele e exalando de sua presença, bruxuleava uma auréola fosca, intensamente negra e opaca, lembrando um buraco negro em tamanho reduzido, que parecia sugar toda a luz ao seu redor. Contudo, havia nela rajadas escarlates, como se estrias de um rubi brilhante adornassem discretamente aquele arranjo invulgar. Fiquei a indagar-me se aquele estranho das profundezas estaria absorvendo cada um dos tênues raios da luz astral, que se esgueirava por entre a imensidão de nuvens espessas e opressoras do ambiente extrafísico, subcrustal.
Envolvia-o urna bruma carregada, tangenciando a materialidade e ainda mais densa do que a concentração da matéria astral daquela dimensão. Aquela fuligem rodopiava em torno de seu corpo perispiritual de aparência delgada cuja elegância mostrava-se implacável, agressiva para depois se dissolver, ofuscando a visão dos desterrados. A atmosfera psíquica ao redor era percebida como uma noite negra, negra como a he-matita, o ébano, negra como um pesadelo, que era característica das regiões mais densas, vibratoriamente mais inferiores que o chamado umbral.