quarta-feira, 9 de março de 2022

O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS Também chamado de Bardo Thodöl, cujo significado é “Libertação pela audição no plano pós-morte”.

 O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS
Também chamado de Bardo Thodöl, cujo significado é “Libertação pela audição no plano pós-morte”.


Nenhuma descrição de foto disponível.Também chamado de Bardo Thodöl, cujo significado é “Libertação pela audição no plano pós-morte”. Trata-se de um texto tibetano muito antigo cuja mensagem era oculta ao público em geral, sendo apenas transmitida de mestre a discípulo ao longo do tempo. Porém, por algum motivo desconhecido ou não especificado, seu conteúdo passou a ser aberto e qualquer pessoa poderia ter acesso.
Ninguém sabe ao certo há quantos séculos o livro tibetano dos mortos foi escrito. Não existem registros de sua origem, por tratar-se de uma tradição secreta e oral, passada de boca a ouvido ao longo do tempo. No entanto, acredita-se que o texto remonte a VIII D.C., na época do grande mestre tibetano Padma Shambava.
O Livro Tibetano dos Mortos afirma, não apenas que existe vida após a morte, mas que é possível morrer de forma consciente e de um modo que seja proveitoso para o despertar espiritual. O livro é geralmente lido em voz alta a uma pessoa que está bem próxima da morte e continua a ser recitado mesmo após a passagem do indivíduo. Isso é uma indicação de que os tibetanos acreditavam que, mesmo após a morte, a pessoa permanecia de alguma forma mantendo contato com o local onde morreu (ao menos por algum tempo) e assimilava aquilo que era proclamado com a leitura do livro. Dessa forma, uma pessoa que passa pela transição entre a vida e a morte com conhecimento de causa e sabendo com profundidade o que acontece “do outro lado da vida” pode aproveitar essas informações e saber como se conduzir nos diferentes estados e planos de consciência do pós-morte. Nesse sentido, o Livro Egípcio dos Mortos possui a mesma intenção: ajudar o moribundo no passamento do limiar da morte e ser um guia para esse momento de suma importância na vida da alma.
O Livro Tibetano dos Mortos foi trazido ao ocidente pelo Dr. graduado em Oxford T. W. Evans-Wentz, que escreveu um livro no início do século XX (1927) traduzindo e explicando o Livro Tibetano dos Mortos. C. G. Jung escreveu um prefácio de uma das edições do livro analisando seu conteúdo do ponto de vista psicológico. Jung declarou ter sido um leitor assíduo do livro e que devia a ele muitas ideias fundamentais. Jung escreveu que “todo leitor sério forçosamente irá perguntar-se se estes antigos e sábios lamas, afinal de contas, não poderiam ter vislumbrado a quarta dimensão, arrancando assim o véu dos maiores mistérios da vida.” Jung ressalta ainda que por se tratar de um livro aberto hoje em dia, isso não significa que todos consigam compreende-lo em sua essência. Assim, se tornou aberto para o público, mas continua “fechado” ao entendimento de muitos.
A mensagem central do livro tibetano dos mortos é basicamente a seguinte: o texto explica que após a morte, a pessoa desencarnada se confrontará com várias cenas, visões, aparições, etc. Em cada um dos bardos, a pessoa terá a experiência de cenas e visões diferentes, mas ela deve atravessar tudo isso com total tranqüilidade. Para tanto, é necessário compreender uma coisa essencial: tudo o que ela vir e experimentar lhe parecerá real, mas trata-se tão somente do conteúdo de sua própria mente projetado no exterior e tornado perceptível tal como se fosse realidade. O texto adverte que as visões não são verdadeiras, são apenas uma emanação da consciência do observador. O livro insiste que a pessoa deve focalizar a Lua Clara e não se abalar com tudo o que lhe vier de percepções aparentes. A única verdade é a Luz Clara, uma manifestação do vazio de formas e substâncias, mas plena de vida. Concentrando-se na Luz e deixado de lado todo o resto, o morto poderá atingir o universal, a iluminação. Caso não tenha sucesso, a alma cairá novamente no mundo fenomênico e retornará ao ciclo dos renascimentos.
Como o conteúdo da mente projetado no espaço e tornado visível à pessoa depende de suas crenças e criações mentais, cada pessoa verá uma coisa diferente. As imagens descritas no livro são adaptadas à cultura tibetana, que possui uma visão específica do que ocorrerá após a morte. Por isso, os autores do texto consideram que o tibetano terá certas visões, que são típicas dos costumes religiosos do povo. Mas o que está descrito pode variar de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, dependendo das expectativas dos recém-desencarnados. Dessa forma, os cristãos ortodoxos poderão ter visões sobre o purgatório, o inferno ou mesmo o paraíso. Tudo isso varia com as crenças, pensamentos, sentimentos e expectativas de cada um.
Essas indicações do Bardo Todhöl assemelham-se significativamente às recentes pesquisas da Terapia de Vidas Passadas. Na TVP, autores escreveram que a alma se depara com suas criações mentais e expectativas e percebe mesmo aquilo que espera que aconteça. Podemos nos questionar se além desta, há outras semelhanças entre o Bardo Todhöl e as recentes pesquisas com regressão a vidas passadas. Podemos enumerar outras possíveis semelhanças:
1) A própria realidade da vida após a morte. Essa ideia é abordada em todo o livro e enfatiza claramente que o real não pode ser encontrado na rede de ilusões do mundo, mas apenas no esplendor dos planos superiores.
2) A existência de outros planos de realidade além do plano físico. O Bardo Thodöl vai descrevendo os diversos estágios ou níveis de percepção da ascensão do eu.
3) A existência da Luz Clara, a famosa luz no fim do túnel que relatam alguns remigrantes. . “O teu ego e teu nome estão em jogo de acabar. Estás pondo-te em frente da Luz Clara.” O livro fala da existência da Luz Clara, mas vai além: diz que existem três níveis dessa luminosidade, em cada um dos bardos.
4) A sensação de transcendência e unidade conferida pelo contato com a Luz Clara. “Quando o corpo e a mente se separam, experimentas uma rápida visão da verdade pura, sutil, radiante, brilhante. Vibrante, gloriosa.”
5) A percepção da ausência de formas, objetos, tempo e espaço; mas apenas do vazio supracósmico. “Não-pensamento, não-visão, não-cor. É vazio”. “Esse vazio não é o nada”, afirma o livro. Mas é pleno de consciência e realidade universal. “O intelecto brilhando é cheio de felicidade e silencioso. Este é o estado de perfeita iluminação”.
6) Há três estados de perda dos invólucros ou camadas da consciência, as três diferentes formas de expressar a individualidade no plano objetivo (etérico, astral e mental). “Agora vais experimentar três bardos. Três estados de perda do eu.” O que o livro chama de “jogos de alucinações fantasticamente variados” são as formas percebidas por aqueles que acabaram de morrer, mas que ainda acreditam e afirmam a realidade das formas-pensamentos concentradas na última vida. Vemos aquilo que criamos mentalmente ao longo da vida. “Para ti é suficiente saber que estas aparições são as formas de teu próprio pensamento.” Em outra parte, o livro ressalta que a libertação do jogo ilusório da existência é possível através da observação das formas psicológicas que atravessam nossa mente: “Medita calmamente sobre o conhecimento de que estas visões são emanações de tua própria consciência. Desta maneira podes obter conhecimento próprio e libertar-te.No retorno ao plano dos nascimentos e mortes, a alma aguarda seu nascimento.
7) O Livro Tibetano dos Mortos declara, assim como a TVP, que é possível selecionar e antever a personalidade da próxima vida. O Bardo Thodöl não dá detalhes sobre isso, mas afirma que “É quase tempo de voltar. Faz a seleção de tua futura personalidade de acordo com os melhores ensinamentos. Escuta bem: os sinais e características do nível de existência a vir aparecerão ante ti em sinais premonitórios. Reconhece-os”. Embora isso não esteja especificado, é possível que a frase “de acordo com os melhores ensinamentos” seja uma indicação do ensinamentos que vem de fontes superiores, como os Senhores do Karma, os “planejadores” da futura encarnação, tal como evidenciam as pesquisas da TVP.
8 ) Pouco antes do nascimento, o futuro encarnado é compelido a unir-se a um feto. Nesse sentido, o livro tibetano dos mortos afirma que “Teu estado mental agora, afetará seu posterior nível de ser.” Isso pode demonstrar que, antes do nascimento e na fase intrauterina, o estado mental, nossas reações ao que ocorre no meio e nossa predisposição psíquica podem influenciar a geração do feto, o nascimento e as tendências futuras. Isso combina muito bem com as atuais pesquisas de regressão à fase intrauterina e antes do nascimento.
Os seis bardos
O Bardo Thodöl distingue seis bardos (estados de consciência). Em cada um dos bardos, a experiência do ser senciente tem qualidades distintas. Todos esses estados são intermediários, sendo possível, à consciência, distingui-los. A percepção do contraste entre um bardo e outro torna-se possível através do desenvolvimento da lucidez.
Segundo a tradição tântrica, existem técnicas de meditações específicas que correspondem a cada uma dessas qualidades, para conduzir a consciência à percepção das qualidades fundamentais da mente e seus fenômenos.] Os três bardos do estados intermediários de consciência no plano pós-morte sãoː
O Chikhai Bardo ou "bardo do momento da morte"ː é o bardo dos acontecimentos psíquicos no momento da morte, onde surge a experiência com a "Clara Luz Primordial", uma espécie de vislumbre efusivo da essencialidade da consciência.
O Chönyid Bardo ou "bardo da experimentação da realidade"ː trata do estado de sonho que começa logo após a morte, o qual pode ser compreendido como a fase do surgimento das "ilusões cármicas" decorrentes das ações, pensamentos e experiências em vida.
O Sidpa Bardo ou "bardo do renascimento"ː se refere aos impulsos e desejos de renascimento e aos estados psicológicos pré-natais.
O livro também menciona três outros bardos, ou estados intermediários de consciência no plano da vidaː
O Rang bzhin Bardo – bardo da "vida", ou o estado de consciência desperta comum;
O Bsam gtan Bardo – bardo do dhyana, ou estado de profunda meditação (ao atingir o êxtase meditativo);
O Rmi-lam Bardo – bardo do "sonho", o estado de sonho durante o sono normal.
A identificação da consciência com a Clara Luz também pode ser entendida como o sétimo estado ou supra estado de consciência, o estado de pura quiescência
"Ó nobre filho, ouça atentamente sem distrair-te. Existem seis estados de Bardo, que são: o estado natural do Bardo durante a vida; o Bardo do estado onírico (durante o sono); o Bardo do equilíbrio extático (da profunda meditação); o Bardo do momento da morte (Chikhai Bardo); o Bardo da experiência da Realidade (Chönyid Bardo); o Bardo do processo inverso da existência sangsárica (ou o bardo do renascimento, Sidpa Bardo)... Ó nobre filho, é chegado o momento daquilo que denominam "morte"... Não te apegues mais a esta vida por fraqueza ou covardia... Não sejas fraco, não te apegues... Lembra-te que a preciosa verdade, agora, a ti se revelará..."
Fundamentos
O livro aborda os seguintes fundamentosː
1) A eternidade da consciência
A eternidade da consciência: a consciência que perfaz a realidade para si mesma persiste após a morte. Essa ideia é abordada em todo o livro, onde enfatiza claramente que a verdade não pode ser encontrada na rede de ilusões do mundo, mas apenas no esplendor da percepção dos planos superiores, que se dá através da ascensão da consciência (através do profundo conhecimento de si). Tanto o hinduísmo quanto o budismo afirmam que a rede de ilusões do mundo é gerada pelos "infinitos e sedutores tentáculos" da deusa Mahamaya, o Brahman dos Rishis, o Sonhador de Maya, o Tecelão da Teia das Aparências, a vida imersa na pura ilusão do infinito ciclo de nascimentos e mortes – a consciência alienada no Samsara.
2) Planos de existência
A existência de outros planos de realidade além do plano físico. O Bardo Thodöl descreve os diversos estágios ou níveis de percepção que se dão pela "ascensão" ou "queda" da consciência. Os planos de existência podem ser tomados como os planos onde a consciência se atém e está imersa.
3) A Clara Luz Primordial
Uma metáfora para descrever a percepção da manifestação da essência da consciência, da qual o livro chama de Clara Luz Primordial – a "luz que há no fim do túnel", como relatado em algumas experiências de quase-morte. O livro dizː "o teu ego e teu nome estão em fins de acabar. Estás pondo-te em frente à maravilhosa Clara Luz Primordial".Para os lamas tibetanos, a compreensão da Clara Luz é o despertar do ser para a percepção de sua verdadeira natureza; é a percepção da luz que surge da essencialidade de si (rigpa nu). Através da identificação com este esplendor, o espírito obtém plena clareza sobre a realidade da consciência. O livro fala da existência da Clara Luz, mas vai além: diz que os níveis dessa luminosidade se estendem pelos seis bardos de existência.
4) A experiência da verdade
O livro afirma que a consciência adquire um estado de transcendência pura através do contato com a Clara Luz, "quando o corpo e a mente se separam, experimentas uma rápida visão da Verdade pura, sutil, radiante, brilhante, vibrante, gloriosa".] sta experiência está associada à vasta e clara percepção da realidade através da desobstrução da consciência.
5) A compreensão da realidade
O princípio da compreensão da realidade, do vazio supraessencial: ausência de formas, objetos, tempo e espaço. "Não pensamento, não visão, não cor. É vazio". "Esse vazio não é o nada",[afirma o livro; mas é pleno de consciência e realidade – “O intelecto brilhante é silencioso, inabalável e cheio de felicidade. Este é o estado da perfeita iluminação, a final assimilação da Clara Luz”.

Pintura tradicional tibetana que ilustra a Roda da Vida e os reinos do Samsara.
6) A perda do ego
Há três estados de perda dos invólucros ou camadas da consciência (das quais uma delas, para o espiritismo, se denomina perispírito), ou seja, três diferentes formas de expressar a individualidade no plano objetivo: etérico, astral e mental. "Agora vais experimentar três bardos. Três estados de perda do ego". O que o livro chama de "jogos de alucinações fantasticamente variados” são as formas percebidas por aqueles que acabaram de morrer, isto é, a visão das formas-pensamentos vividas e experimentadas nesta sua última vida. Segundo o livro, vemos aquilo que criamos mentalmente ao longo da vida. "Para ti, é suficiente saber que estas aparições são as formas de teus próprios pensamentos". Em outra parte, o livro ressalta que a libertação do jogo ilusório da existência é possível através da observação das formas psicológicas que atravessam nossa mente: "medita calmamente sobre o conhecimento de que estas visões são emanações de tua própria consciência. Desta maneira, podes obter conhecimento próprio e libertar-te. No retorno ao plano dos nascimentos e mortes, a alma aguarda sua libertação"
7) O renascimento
O Livro Tibetano dos Mortos declara – assim como a TVP (Terapia de Vidas Passadas) – que é possível prever a personalidade da próxima vida, segundo o fluxo kármico do espírito. O Bardo Thodöl não dá detalhes sobre isso, mas indica: "É chegado o tempo de retornar. Faça a seleção de tua futura personalidade de acordo com os melhores ensinamentos. Escuta bem: os sinais e características do nível de existência a porvir aparecerão ante a ti em sinais premonitórios. Reconheça-os”.
😎 A união com um feto
Pouco antes do nascimento, o futuro encarnado se vê compelido e desejando unir-se a um feto. Nesse sentido, o Livro Tibetano dos Mortos faz a seguinte afirmação: "Teu estado mental agora afetará seu posterior nível de ser". Isso prediz que, antes do nascimento, e mesmo antes da fase intrauterina, nosso estado mental e nossa predisposição psíquica podem influenciar a geração do feto, o nascimento e as tendências futuras. Neste caso, é notório observar as semelhanças destas ideias com as atuais pesquisas psicológicas sobre processos de regressão analítica à fase intrauterina.
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Autor: Hugo Lapa